Ou sobre vir morrer a portugal.
Voltar a casa não só lhe tira o medo como a pena de morrer. Não que ela tenha pressa ou faça questão de ir já. Aliás, acreditamos que alguma força externa ou alguém terá que a levar porque dificilmente - ela decidiu isto - irá pelo seu próprio pé. Mas convenhamos que a terra mãe tem um declive acentuado. Como se a gravidade neste lugar fosse mais forte. "Porque aqui é muito fácil distraires-te, escorregar e deixares-te ir. Se calhar é do tempo, não sei. Mas qualquer coisa nesta terra convida ao relaxamento do tónus muscular e quando dás por ti cais numa linha do comboio ou coisa parecida. Como se cai tão facilmente aqui? - deverá questionar-se um não nativo com raízes algures num lugar longínquo, mais fértil e menos arenoso. Porque nesta terra não há nada onde te possas agarrar. Não tens nada a perder. É fácil cair. E tudo é muito difícil quando nos sentimos tão pesados. Caímos em qualquer lado e achamos normal. Deixamo-nos ficar de vez em quando porque estamos muito cansados e porque, de certeza, vamos tropeçar ali mais à frente outra vez. E na verdade não faz muita diferença se o comboio passar ou não. Estamos cansados o suficiente para sentir que não vamos dar por isso. Aqui o mato aqui morre na seca ou na queima mas morre sempre.
Eu fui um tempo para longe, para um lugar sem gravidade, e esqueci do meu peso original. Uma pessoa convence-se de que é gente e quando menos espera tropeça e lembra-se do calo e massa óssea que perde em lugares com menos gravidade, contraste e textura"
Ela desconfia que quem voluntariamente retorna só o faz porque quer ver sangue. Ou é suicida ou sádica.